quinta-feira, 3 de dezembro de 2009



  •                                         

  • TEXTO DE FABRÍCIO CARPIJENAR COM BÓRIS PASTERNAK
    (Adaptação: Ana Carolina - Turnê Dois Quartos)
"Te olho nos olhos
e você reclama
que te olho muito profundamente.
Desculpa,
Tudo que vivi foi muito profundamente.
Eu te ensinei quem sou
E você foi me tirando os espaços entre os abraços,
Guarda-me apenas uma fresta.
Eu que sempre fui livre
não importava o que os outros dissessem.
Até onde posso ir pra te resgatar?
Reclama de mim
Como se eu tivesse condições
de me inventar de novo.
Desculpa se te olho profundamente,
Rente a pele
A ponto de ver seus ancestrais em seus traços,
A ponto de ver a estrada muito antes dos teus passos.
Eu não vou separar minhas vitórias dos meus fracassos,
Eu não vou renunciar a mim.
Nenhuma parte
Nenhum pedaço
do meu ser vibrante,
Errante,
Sujo,
Livre,
Quente.
Eu quero estar viva
E permanecer te olhando profundamente."



  • POEMA DE BENJAMIM CONSTANT
    (Turnê Estampado)
Todo sentimento precisa de um passado pra existir
O amor não
Ele cria como por encanto um passado que nos cerca
Ele nos dá a consciência de havermos vivido anos a fio
Com alguém que há pouco era quase um estranho
Ele supre a falta de lembranças por uma espécie de mágica.





  • AMOR PELOS DESFECHOS
    (Elisa Lucinda - DVD Estampado)
Chuvinha fina porém decidida, eu entro no taxi mandado a me buscar e que me aguardava à porta de casa, já há uns quinze minutos.

- Boa noite, aonde vamos? Perguntou o motorista.
- Não sei, o senhor não sabe?
- Essa é boa: é a primeira vez que pego uma passageira que não sabe para aonde vai! Vou te contar...
- Peralá, o senhor foi contratado para me levar para uma corrida para a qual já foi até pago... e não sabe?
- Não senhora. A empresa apenasmente me bipa e eu venho no endereço. Certo?
- Bem, o que eu sei é que vamos para São Conrado na casa de Ana Carolina, a can..
- A cantora? Pô essa mulher é fera! E como é que a gente chega lá?
- Ana Carolina? (Eu já de celular em punho falando com a própria) Como é que eu fáço pra chegar aí.., etc e tal... patatipatatá?...
- Mas essa menina canta muito bem. Aliás, essa música que está tocando aí dela na novela é uma versão boa, mas a primeira foi a do José Augusto. Sabe quem é? "Agora agüenta, coração..."
- Sei, mas eu não conheço a versão dele pra essa música que a Ana gravou com a versão dela.
- Ah, é muito bonita! Quer ouvir?

Pois não é que Marcos (era esse o nome dele) sacou de seu CD, o melhor de José Augusto e o colocou no excelente som de seu carro imediatamente? Seguimos na estrada ouvindo aquela breguice; ele preferia a dele, eu disparadamente a dela e a conversa vai até quando éramos pequenos, cada um no seu mundo, o gosto pela musica já aparecendo na infância e coisa e tal. A conversa seguia boa até que ele perguntou:

- Será que Ana Carolina sabe que existe outra versão dessa música?
- Não sei, mas eu vou contar a ela.
- JURA?
- Jura.
- Vai dizer que eu mostrei o disco e tudo?
- Claro, vou contar a estória desde a hora em que ainda não sabíamos para onde íamos.

A chuva caía lá fora e à noite, São Conrado me parece mais longe e mais desconhecido. Vamos seguindo errando ali, entrando na possível rua acolá, adivinhando uma esquina, a cor vermelha do edifício, conforme a própria dona da casa havia me dito pelo telefone, parecia ser num outro bloco mais adiante.

- Quer dizer que a senhora vai contar a ela o assunto dessa nossa corrida? Que eu sou fã dela e tudo?
- Claro que eu vou!
- É, a gente fica pensando... Será que ela vai gostar de saber?
- Talvez ela já saiba. Mas uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
- Mas dá vontade de ser uma mosquinha a assistir tudo o que vai acontecer lá quando você contar. Não é que eu seja curioso não, sabe?
- Não, você e uma espécie de enxerido científico, eu entendo.
- É, essa que a é a tristeza do motorista de táxi.
- Qual tristeza Marcos?
- A gente nunca sabe o final. É sempre assim, essa agonia: "Moço, pelo amor de Deus, toca pro Santos Dumont que eu tenho que pegar esse avião que sai em vinte minutos. Lá em São Paulo um cara vai estar me esperando no aeroporto, e de lá nós vamos para uma reunião que, dependendo do resultado, eu vou poder me separar da Odete e casar com a Patrícia. Eu nem acredito! Deus me ajude. Corre moço!". Aí você pisa firme, toma até multa, mas deixa o cara no destino dele. E a parte deles com a gente só vai até "obrigado" ou "valeu" e a nossa com eles até o "boa sorte".
- E você fica pensando nos possíveis finais?
- Fico. Será que ele pegou o avião? Será que perdeu, chegou lá não havia ninguém esperando em Sampa porque ficou muito tarde e ele não pode resolver o negócio para se divorciar de Odete e casar com Patrícia, meu Deus?
- Você tem razão. Porque você com seu serviço, passa ser um personagem na trama. Um personagem cuja ação é decisiva para o desfecho. - Pois é. E quando a gente leva pessoa quase parindo? Ah, nossa senhora!
Quando agente chega lá e deixa a passageira e os parentes, ah... dá vontade de entrar no hospital, sabe? Saber notícia, esperar um pouco só para esticar o ouvido e escutar um marido dizendo: é uma menina como a mãe queria! Sei lá, eu falando assim pareço um cara entrometido... mas...
- Mas não é. Você é um cara solidário, é diferente. Você se envolve com a estória do outro que está ajudando a contruir com sua ação. Você considera a vida do outro, você se importa com o outro. Sua curiosidade é uma certa compaixão pelo outro e quer acompanhar o desenrolar dos fatos depois que você o deixa.
- Você é psicóloga? - Não, sou escritora e atriz.
- Ah, então também aprecia o roteiro da vida, né?
- Se é, vivo que nem você, pensando nos enredos. No meu e nos dos outros. Estou terminando agora meu livro de contos, meu primeiro livro de prosa e tem uma parte dele que se chama "Uma escuta Passageira" que são algumas das inúmeras estórias que os motoristas de taxi me contam. São maravilhosas. Isso dá a maior parceria pro meu pensamento.
- E o livro está no computador?
- Não, está aqui na pasta. Estou revisando e vou levar pra mostrar um conto que a Ana Carolina vai dizer no Canecão.
- Deixa eu ver? É isso que eles chamam de originais?
- Tá falando com eles. - Puxa, que honra! Que dia esse o meu! Aqui acontece de um tudo. E se a gente contar parece mentira. - Parece ficção. Isso sim.
- Bem chegamos. Acho que é aqui sim. Ela disse o único prédio vermelho.
- Tchau, obrigada, bom trabalho.
- Tchau. Boa Sorte.

Nos despedimos no de sempre quando me voltei ainda, sob a chuvinha já mais fina, eu já quase entrando no edifício, gritei: Marcos?

- Sim?
- Você quer saber o final?

Os olhos dele brilhavam como os de uma criança que finalmente toca naquela bola querida.

- Claro que quero! É tudo o que eu quero!
- Então vem me buscar!



  • MÃO EMBAIXO DA BLUSA
Pare de me escutar
Eu acredito no que eu canto
Porque o que eu canto é muito verdadeiro
É o que ha de inteiro num colar de ostras
Sem perola dentro
A gente fica tentando transformar o mundo e vai mudando o mundo
Pra transformá-lo, transformá-lo, transformá-lo...
No que é
E as vezes eu fico pensando
Que eu nao quero ser deusa
Eu nao quero ser diva
Nem musa
O que eu quero
Sabe o que é
A sua mao
Bem aqui debaixo da minha blusa...



  • MON ANIMAL
    (Elisa Lucinda)
Eu a vejo quase todas as manhãs.
Não é exatamente bonita.
Aliás ela é de uma feiura estranha como se carregasse uma boniteza espalhada em si, nos gestos e não nos traços exatamente. Não importa. Importa é que a vejo acompanhada perenemente pelo seu cão.

Um pastor alemão com cara de bom companheiro. E o é. Eu vejo. Olha-a muito, encaixa seu focinho entre os joelhos dela, brinca com ela, gane querendo dengo. Ela também, essa minha vizinha de uns quarenta e vividos anos, brinca de não-solidão com esse cachorro específico; gosta dele, ri: Não Duque, assim não, deixa o moço, Duque, me espere. Não vá na minha frente assim, cuidado com o carro, menino. Ele a olha como quem agradece. E vão os dois, não em vão, pelas ruas de Copacabana sob o sol, felizes que só vendo. Eu vejo.

Ela é camelô; nos encontramos no elevador e eu: - Vocês se divertem tanto, é tão bonito. - É, nos conhecemos na rua. Ele olhou pra mim bem nos meus olhos. Eu estava trabalhando. Vi logo que era um cão bem cuidado fisicamente mas faltava-lhe carinho. Deixei minhas bugigangas (ela vende coisas que querem imitar jóias antigas) por não sei quanto tempo e fiquei agachada na calçada na Avenida Nossa Senhora, só namorando ele. Decidimos que ele viveria comigo. Naturalmente. Tudo aconteceu "naturalmente", ela frisou, como se quisesse dissipar de mim qualquer sombra de suspeita de um possível roubo. Noutro dia no mesmo elevador, ela com seu carrinho de balangandãs, eu e Duque. O elevador apertado e ela continuou femininamente a conversa do último elevador nosso: - Tenho certeza que ele é de câncer. É muito sensível. Só falta falar. Né Duque? ... ele não é lindo? Eu disse: - Lindíssimo. E você que signo é? - Ah, sou capricórnio mas com ascendente em câncer, combina sim.

Eu vejo Duque lambendo as mãos dela, as magras mãos cujos dedos ela oferecia de propósito e distraídamente a imordida dele. Eu olho admirando receosa por conta dos afiados dentes dele. Quase não entendo de cães.

- Você tem medo... ô não ofenda ele; Duque entende pensamentos e não gostou do que você pensou. Jamais me morderia, jamais me trairia. Né Duque?
Senti o pensamento de Duque latindo que jamais a trairia. Achei bonito. Chegamos. - Tchau, bom trabalho. Tchau Duque. Fui para a rua pensando longamente nos dois. Depois pensei nos mistérios da astrologia e perdi o fio do meu pensamento.
Ao final da tarde avistei pela janela Duque e Angela indo ver o crepúsculo na praia. Depois vi os dois voltando sorridentes e caninos, sob a noite estrelada; ela com fitas de vídeo penduradas ao braço; sempre conversando com ele.

Tenho inveja de Angela.
O animal que eu quero não mora comigo, não almoça mais comigo, não brinca mais, não me telefona, não me adivinha os pensamentos, não me acompanha ao crepúsculo, não gane querendo dengo, nossos signos parecem não mais combinar. O animal que quero, pensa demais e por isso não passeia mais comigo. E o pior: Não me lambe mais.



  • QUASE
    (Sara Westphal)
Ainda pior que a convicção do não é a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase.
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto.
A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.



  • POEMA DE E.E. CUMMINGS
    (Tradução de Monique Gardenberg - Turnê Estapado)
...Eu gosto do seu corpo
Eu gosto do que ele faz
Eu gosto de como ele faz
Eu gosto de sentir as formas do seu corpo
Dos seus ossos
E de sentir o tremor firme e doce
De quando lhe beijo
E volto a beijar
E volto a beijar
E volto a beijar..



  • PRA MIM É IMPERFEIÇÃO
    (Ana Carolina)
Pra mim é imperfeição estar suspenso
Em cada vão da terra um tédio imenso
Todo milagre, toda maravilha torna mais fácil a minha solidão
E todo esplendor pra mim é vão
Porque eu não sou perfeição
e também não sou nenhuma maravilha



  • SE TODO SER AO VENTO ABANDONAMOS
    (Sophia de Mello Breyner)
Aqui estou com a minha imagem
tudo que é jogo e tudo que é passagem
no interior das coisas, canto nua
aqui livre sou eu, eco da lua
e dos jardins os gestos recebidos
e o tumulto dos gestos recebidos
aqui sou eu tudo o quanto amei
não por aquilo que só atravessei
não pelo meu rumor que só perdi
não pelos incertos atos que vivi
mas por tudo de quanto ressoei
e em cujo amor, de amor eternizei.


  • ALFREDO, É GISELE
    (Elisa Lucinda - Show Ana & Jorge)
Sora vê, daqui do táxi a gente sabe é cada coisa... Sabe e aprende, aprende até a não ter preconceito. Cada um tem o seu segredo, tem o seu cada qual. Nem que seja uma coisica de nada. No fundo todo mundo sabe que lá dentro tem uma verdade só dele que as vezes nem ele mesmo sabe. Outro dia peguei um casal assim já de meia idade, bem apessoado, lá no centro, no Teatro Municipal. Eles tinham ido vê uma tal de Ópera, sei lá. Já eram umas 11 e meia da noite, a gente veio bem até o Aterro, entramos em Botafogo e o trânsito emperrou. A mulher já azedou na hora e foi falando para o marido :

- Que trânsito é esse, quase meia noite? Não é esquisito, Alfredo?

E o tal do Alfredo parecia um homem rico mas não era fino, sabe ? E não gostava mais dela, eu acho. O cara era uma múmia. A resposta dele pras conversas da mulher tavam mais pra rosnado, sabe?

- Alfredo, isso não é uma absurdo? Nós aqui parados num trânsito quase de madrugada, não entendo, é estranho, hoje é sábado. Será que é algum acidente, Alfredo?

Como o homem não dizia nada, aí eu interrompi: com todo respeito sabe o que é isso madame? Simplesmente aqui virou um lugar só de "homensexuais" e mulher sapatona. É cheio de barzinho deles, a rua toda. Fim de semana ferve. Quem quiser ver homem beijando homem e mulher se esfregando em mulher, é aqui mesmo.

- Você tá ouvindo, Alfredo? Meu Deus, eles agora tem até bar pra eles, até rua!? Não é um absurdo, Alfredo?

- Ô Onça, cê me conhece, sabe bem como é que eu sou. Pra mim isso se resolve é na porrada. Se eu sou o pai, desço do carro e não quero nem saber o que é que entortou, o que é que virou, não quero saber o que é cú e o que é fechadura, baixo o sarrafo na cambada! Eu, com sem vergonhisse, o sangue sobe, eu viro bicho.

- Pára de falar essas palavras de baixo calão, Alfredo. Hum! Fica de gracinha que a pressão vai lá nos Alpes, você sabe muito bem o que é que o médico falou ..., não é motorista? Alfredo não é muito esquentado?

Eu dei o meu pitaco:

- É madame, o negócio que ele tá falando é como eu vi no filme. Uma metáfora. Ele não vai bater, vai só ficar zangado.

- E o senhor sabe o que é metáfora? O senhor entende de metáforas? Escuta isso Alfredo! O que é metafora, seu motorista?

- Metáfora pelo que eu entendi é assim: aquilo não é aquilo, mas é como se fosse aquilo. Então, em vez da gente dizer que aquilo é como se fosse aquilo, a gente diz que aquilo é aquilo. Mas não é. É como se fosse. Foi?

- Eu acho que o senhor tá certo, mas na verdade eu estou é chocada com essa libertinagem. Olha aquele homem... que safadeza me Deus! Beijando outro homem! E de bigode ainda! Escuta isso Alfredo!

- Escutar o quê, Coisa?

- O que eu estou vendo, gente! Ai, Alfredo, não está vendo? Parece que é cego, não é motorista?

- Hoje tá até fraco - eu falei. Hoje nem tem os "general"?

- Que "General" ? Escuta isso Alfredo?

- General das sapatona é aquelas mulher de coturno que parece mais com um macho do que qualquer coisa. E o outro general é o homem transformista que é a traveca, mas anda na gillete mesmo.

- Tá ouvindo, Alfredo? A violência e a decadência como estão?

- E a gente vai ter que ficar parado nesta merda, ô Coisa?

- Calma Alfredo, não fica nervoso! Isso é questão do nível das pessoas. A gente que tem... não é motorista? ... mais condições, temos que entender essa...,essa..., como é que eu digo, meu Deus? Essa...

- Putaria!

Falamos juntos eu, ela e o tal do seu Alfredo com cara de doutor de num sei de quê.
- Cruzes Alfredo, não era isso que eu ia.... Alfredo, olha aquela moça! Gente, uma menina, dezoito anos no máximo, e a outra maiorzuda no meio das pernas da coitadinha, fazendo sabe lá o quê !!! Tá vendo Alfredo aquela alí? Alí, aquela Alfredo, em cima do carro! Olha lá Alfredo, a mão da grandona na menina! Elas vão ser beijar na boca, minha Nossa Senhora...

- Que transitozinho, hein? nunca mais viremos por Botafogo, tá decidido!

- Mas Alfredo olha a menina! Tá beijando, tá beijando, tá beijando Alfredo! Ela parece... Alfredo é Gisele! Alfredo! Nossa filha!?

- Filha da puuuutaaa...

E desmaiou... O tal do doutor desmaiou, enquanto a jararaca da mulé ventou porta afora de sapato na mão atrás das duas e eu pensando: não quero nem saber, encosto aqui mesmo e espero o resolver, que uma corrida dessa eu não vou perder, que eu não sou bobo e nem sou rico. É ruim de eu ir embora, heim?
Então eu fiquei naquela situação: eu com um cara que era um ex-valente todo desmaiado no banco de trás parecendo uma moça, a mulé saiu pisando forte que nem um general, quer dizer, tudo trocado e eles reclamando da filha. Se eu pudesse eu ia lá defender a moça, mas não posso, já que o negócio é de família, né?

Eu não tenho preconceito, mas é isso que eu tava falando pra senhora: daqui a gente sabe cada coisa! Mas é cada um com o seu cada qual.



  • SÓ DE SACANAGEM
    (Elisa Lucinda
    "Texto encomendado por Ana Carolina para part. no CD de Seu Jorge"
Meu coração está aos pulos.
Quantas vezes minha esperança será posta a prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar...
Malas, cuecas que vão entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós.
Pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais.
Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz.
Mas não é certo que a mentira dos nossos brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração tá no escuro, a luz é simples regado ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam.
Não roubará, devolva o lápis do coleguinha, esse apontador não é seu minha filha. Ao invés disso tanta coisa nojenta e torpe, tenho tido que escutar .
Até hábeas-corpus preventivo coisa da qual nunca tinha ouvido falar e sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste.
Esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois é, e se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear. Mais honesta ainda eu vou ficar. Só de sacanagem.
Dirão: Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba e eu vou dizer: não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez, eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambal.
Dirão: É inútil, todo mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal e eu direi:
Não admito, minha esperança é imortal e eu repito, ouviram, imortal.
Sei que não da pra mudar o começo, mas se a gente quiser vai dar pra mudar o final.



  • ADORO PAU MOLE
    (Maria Rezende)
Adoro pau mole.
Assim mesmo.
Não bebo mate
Não gosto de água de coco
Não ando de bicicleta
Não vi ET
e a-d-o-r-o pau mole.

Adoro pau mole
Pelo que ele expõe de vulnerável e pelo que encerra de possibilidade.

Adoro pau mole
Porque tocar um pressupõe a existência de uma intimidade e uma liberdade que eu prezo e quero, sempre.

Porque ele é ícone do pós-sexo
(que é intrínseca e automaticamente - Ainda que talvez um pouco antecipadamente)
Sempre um pré-sexo também.

Um pau mole é uma promessa de felicidade sussurrada baixinho ao pé do ouvido.

É dentro dele,
Em toda a sua moleza sacudinte de massa de modelar,
Que mora o pau duro e firme com que meu homem me come

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